Os acontecimentos recentes no Brasil, em termos gerais, têm
sido impressionantemente caóticos. Parece que tudo, mas tudo mesmo está fora do
lugar e da ordem: saúde, segurança, educação, política, investimento, empregos,
transportes, tudo está em descompasso. Obviamente que a origem deste desarranjo
todo vem das políticas públicas praticadas (ou não) pelos nossos governantes. A
habitual inércia do governo desde a República, somada a eterna corrupção, mais 12 anos de governo do PT, que além de corrupto, quebrou o país com políticas
populistas e irresponsáveis, o desbaratino e perda de foco dos políticos com as
revelações da Lava Jato são apenas alguns pontos desse caos. Além disso, temos
hoje um país polarizado, com defesas radicais de pontos de vista, regados com
uma ignorância significativa de grande parte da população, que ainda não sabe
dos seus direitos e não sabe exatamente pelo que está lutando, o que dificulta
em muito uma reação ao quadro que aí está.
Um novo capítulo se instala com a delação dos executivos da
JBS e a gravação do Presidente Michel Temer avalisando a compra de silêncio do
ex-deputado Eduardo Cunha frente a possibilidade de uma delação premiada. Feita
com acompanhamento da Polícia Federal e não simplesmente por um corrupto
qualquer que quis se resguardar, a gravação torna-se uma irrefurtável prova de
obstrução da justiça. Posto isso, chamo a atenção para a citação do seriado
“House of Cards”, feita no Twitter pouco depois da divulgação das denúncias: “Tá difícil competir”. Escrito no mais claro Português, o seriado, que trata de política e
corrupção, comprova que os fatos recentes por aqui superam até a ficção. Se
paramos para pensar, provavelmente teremos em breve o recorde de 2 presidentes
impedidos em menos de 1 ano e meio. Independentemente disso, tem sido alarmante
o número de políticos envolvidos em esquemas de corrupção, bem como as cifras
milionárias envolvidas, sem mencionar a engenhosidade de alguns esquemas, com
estruturas complexas de funcionamento e discrição, mesmo em meio as
investigações em andamento.
Enquanto a polarização do país fatalmente se reacenderá,
pois os quase extintos petistas fatalmente bradarão “Volta Dilma!” ou então “Eu
já sabia”, ao passo que o outro lado bradará “Diretas Já”, teremos um país à
deriva. Quando mencionei a ignorância do povo sobre seus direitos, o mesmo se
aplica a análise de cenário: bradar “Fora Temer” sem saber o que aconteceria se
ele realmente desse o fora, é algo que com certeza acontece. Agora que isso é
iminente, poucos sabem quem assume no seu lugar, por quanto tempo, e tampouco
como essa escolha se daria. Fatalmente se decepcionarão ao saber a resposta,
pois Rodrigo Maia, ainda que por no máximo 3 meses, será essa figura. Mais
ainda quando souberem que é o Congresso Nacional escolherá o substituto de
Temer, por eleição indireta. Para que não sabe, diretas, neste momento, não é
algo Constitucional.
Numa visão macro, Temer nunca foi uma tábua de salvação para
o país após o naufrágio do governo Dilma. Enquanto Dilma não era sequer
política, Temer é profissional, tanto que a sua capacidade de aglutinar uma
base sólida no Congresso foi quase que instantânea. Infelizmente, depois do
sucateamento do PT, era necessário alguém que seguisse as regras do jogo e
fizesse o país andar, saindo de uma imobilidade que nos seria fatal em pouco
tempo. A economia em frangalhos, juros altíssimos, redução dos investimentos,
descrédito internacional, enfim, eram fatores que precisavam de (re)ação
imediata. Lembro que na época corria um meme na Internet sobre “como era bom
ter um presidente que sabia falar o Português correto”, numa alusão ao fato de
que Lula era ignorante e Dilma tinha extrema dificuldade em articular suas
idéias (tanto que alguns discursos dela são épicos até hoje de tão engraçados).
Mais do que isso, expressava a necessidade de alguém que fizesse o que deveria
ser feito, visando que o país voltasse a andar. Mesmo sendo alguém tão pouco
confiável.
A verdade é que uma mudança antes das eleições de 2018 é
muito, mas muito ruim para o país, independente de quem assumiu no lugar da Dilma.
Temos uma necessidade extrema de retomada de crescimento, interno e externo, e
uma nova troca de presidente joga isso por água abaixo. Era necessário, quem
quer fosse no lugar da Dilma, que tocasse a situação até que uma nova eleição nomeasse
um novo presidente. Traduzindo em miúdos, que minimizasse os estragos da gestão
petista, retomasse a ordem e mantivesse uma “normalidade” até o momento da
sucessão. Claro que Temer não estava tendo 100% de acerto, longe disso até, uma
vez que os estados quebrados e em situação de calimidade (RJ, para citar um
exemplo) impediam essa retomada, mesmo porque a União, também em sérios apuros,
não tinha como socorrer ninguém. Mas o simples fato da interrupção dos
descalabros petistas e retomada de decisões coerentes era o suficiente a saída
do atoleiro e o respiro até as eleições do ano que vem.
Resta saber o que está por vir. Ao parece, não vai sobrar
ninguém com o avanço da Lava Jato, que têm mostrado o que todos nós, no fundo,
já sabíamos: corrupto ou não, nenhum político em Brasília se preocupa com o
povo ou com o país, mas somente consigo mesmo. Some-se a isso ao fato do modelo
de governo país, calcado num presidencialismo de coalização, estar
completamente esgotado. Nele, mesmo quem quer fazer algo tem de se aliar a quem
não quer, e inicia-se o eterno “toma lá da cá” da política. Se não houver
renovação deles, do modelo e nossa, voltaremos ao mesmo de sempre. Só que ele já
estará muito pior.
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