A Informação Plena


De antemão sinalizo que este texto não julga erros e acertos, mas analisa o aspecto macro que envolve como a informação nasce e chega a cada um de nós; mostra a dimensão e alcance de fatos, dependendo do tipo de abordagem na sua coleta e divulgação. Em suma, que os impactos midiáticos hoje são maiores, mais amplos e mais importantes que no passado.

O recente episódio ocorrido com a reportagem do Fantástico, que colocou a Rede Globo e o renomado Dr. Dráuzio Varela no meio do olho de um furacão, serve para demonstrar o poder da informação – ou da ausência dela, dependendo da perspectiva utilizada – nos dias atuais. Deixando de lado a polarização que tomou conta do país nos últimos anos e que gerou visões dúbias do caso (uns aplaudiram o ocorrido e nenhum problema viram, outros perceberam má fé e manipulação emocional na matéria mediante omissão de fatos), gostaria de ressaltar aqui como a informação tem sido tratada nos dias atuais, seja por quem a gera, seja por quem a consome.

Alguns bons anos atrás, antes do advento da Internet, a mídia impressa tinha uma força que as gerações mais novas sequer imaginam. Jornais e revistas, principalmente, eram a base de informação para quem queria estar em sintonia com o que acontecia no Brasil e no mundo. Deixarei os livros de lado nestas considerações, uma vez que gostaria de focar na informação do dia a dia, exatamente o tema abordado no início deste texto. Voltando ao passado, lembro de quando comprar jornal ou revistas periódicas era algo corriqueiro para se informar, complementado pelo conteúdo jornalístico da TV. A TV, aliás, fazia o papel da Internet no passado, uma vez que conseguia atualizar a informação impressa com mais rapidez. A notícia estampada no Jornal pela manhã ao abrir das bancas era devidamente atualizada pelos tele jornais, ao passo que os impressos só o fariam no dia seguinte.


A chegada da Internet, num primeiro momento – leia-se anos 90/início anos 2000 – complicou a vida dos impressos e também da TV. Sites e portais passaram a atualizar as informações com mais velocidade, mas ainda com a geração de informações na mão dos meios de comunicação oficiais, o que garantia sua fidelidade aos fatos e confiabilidade na informação. O tempo foi passando e aí a telefonia celular começou a complicar ainda mais a situação, pois o adventos dos Smartphones levou a Internet aos meios móveis, tornando o seu consumo ainda mais imediato. Naturalmente foi se criando uma estrutura para atender a este novo leitor que buscava a informação atualizada em qualquer local, dentro ou fora de casa. Ainda nesta evolução, vieram as redes sociais, que além de multiplicarem a disseminação de notícias em tempo real, ou seja, praticamente na hora em que estas ocorriam. Entretanto, as redes sociais deram origem a um fenômeno que, para alguns, foi um efeito colateral: as pessoas passaram a gerar conteúdo e, de maneira informal e nem sempre exata, passaram a competir com os meios de informação oficiais. A partir daí a Internet, que já havia representado a bancarrota da mídia impressa (o papel e seus custos de produção não se mostraram páreos para os pixeis das telas que mudam a cada segundo com um click) agora também representava a concorrência na geração de conteúdo informativo.

Neste ponto podemos voltar ao problema do caso do Fantástico, pois ele resume toda a realidade dos dias de hoje no que tange a informação, seus requisitos e os meios geradores.

Em primeiro lugar, o objetivo da matéria era retratar o descaso e abandono da sociedade e familiares sobre transexuais condenados e presos pela Justiça. O “x” da questão foi a omissão de uma informação crucial, básica até, para que o conteúdo da matéria e seu teor emocional atingisse o público telespectador. Se a informação básica fosse falada, todo o sentido da matéria se perderia. Daí temos a primeira conclusão: o poder dos meios de comunicação ainda é muito grande e relevante. Sua capacidade de manipulação ou indução, benéfica ou não, ainda é muito eficaz e este caso ilustra muito bem isso. Não que isso seja uma novidade, mas hoje temos novos personagens e elementos envolvidos, como citei anteriormente.

E isto nos leva ao segundo ponto: a credibilidade dos meios de comunicação é questionada enormemente, coisa que não acontecia no passado. No caso da reportagem em questão, as informações complementares (e omitidas) foram investigadas, confirmadas e ao serem divulgadas, retiraram todo o teor emocional e de empatia conseguido, gerando revolta e perda de credibilidade dos envolvidos. Afinal, ficou a dúvida: houve ou não má fé? Independentemente da verdade, a responsabilidade dos meios de comunicação aumentou ainda mais, uma vez que a Internet aumentou o acesso e pesquisas sobre (quase) qualquer assunto. Ser tendencioso ou tentar induzir as pessoas a uma linha de pensamento é muito mais difícil, embora não impossível. A prova disso é que muitos acreditaram e se convenceram apenas sobre o que ouviram, sem questionar. Mesmo depois de exposta a verdade, muitos mantiveram suas opiniões, mas muitos outros não. Embora sejamos bombardeados a todo momento por milhares de informações, o pensamento e arbítrio ainda são livres: o resultado deste processamento depende de cada um.

Por fim, não podemos de mencionar, em meio a esse enorme volume de informações, aquelas que são falsas: as famosas “Fake News”. Mais geradores de conteúdo significa mais quantidade, mas não qualidade. Com isso, os meios oficiais têm aumentadas em muito sua responsabilidade, pois eles (teoricamente) são a garantia de confiabilidade e verdade. Quando matérias como a Dr. Dráuzio acontecem e são destrinchadas e massacradas pela opinião pública, um dano muito sério ocorre, que é a perda de credibilidade. Outro agravante nessa linha é que hoje as pessoas conseguem informações sobre determinados eventos que os meios não querem ou não podem mostrar. Um exemplo clássico e bem comum são crimes ou acidentes com vítimas, fatais ou não, que ganham as redes sociais – whatsapp principalmente – com detalhes de mídia (fotos, vídeos e aúdios) que acabam não sendo divulgados nos meios convencionais. Além disso, essa enorme fonte de detalhes acaba revelando distorções e incongruências dos jornais, o que acarreta a já citada perda de credibilidade.

Esse problema tem dois lados, e ambos precisam ser trabalhados: os geradores de mídia, oficiais ou não, precisam ter a ciência da importância que a informação correta, completa e confiável é a única passível de publicação. E o público consumidor ciência de não devem acreditar piamente em tudo que lêem ou vêem: conhecer fontes confiáveis ou saber onde checar algo duvidoso é imprescindível para, como no caso do Fantástico, não terminar com cara de bobo. Ou não.

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