Piratear ou Não Piratear: Eis a Questão!
Na modernidade do dias de hoje, vivemos um grande dilema: comprar ou não um produto pirata? Em todos os meios de comunicação pode-se ver grandes discussões sobre o assunto e os impactos, quase na totalidade negativos, sobre o mercado e a economia. Mas, ao meu ver, ainda cometemos alguns equívocos, na maioria das vezes ao tentar enxergar esta questão de um modo simplista.
Voltando um pouco no tempo, temos a época do vinil e da fita K7. Naquela época, era fácil pegar um disco qualquer e copiar para uma fita. Haviam alguns contra-tempos: arrumar as músicas no espaço que cada lado da fita comportava, as diferentes qualidades de fita, o trabalho de escrever o nome das musicas numa capa minúscula e etc. Entretanto, apesar de alguns artistas terem reclamado sobre isso (se não me engano, Roberto Carlos foi um deles na época), não houve nem 1/3 do alarde que há hoje sobre as possíveis perdas do artista com a cópia. Nessa hora, nota-se a importância que o CD (que está completando 25 anos de existência) teve nesse mercado: o advento da tecnologia digital aumentou a qualidade do produto, tornou a música mais acessível a todos, uma vez que até mesmo aparelhos reprodutores mais simples oferecem uma qualidade de som muito boa. Na época do vinil, era necessário ter acesso a equipamentos muito bons (pick ups, equalizadores, receivers e etc.) para uma boa reprodução sonora. Obviamente, esses bons equipamentos eram muito caros e não eram para qualquer um.
Com a chegada do CD e o boom de vendas que ele gerou, a indústria musical viu-se feliz da vida com números que dificilmente eram vistos na época do vinil. Entretanto, com a chegada dos copiadores de CD (que mantem a qualidade original, ao contrário do que ocorria com os K7) e mais tarde da popularização dos PC´s (que além de possibilitar a cópia dos CD´s, permite também a cópia das artes de capa do produto), os consumidores perceberam que não era necessário comprar cada CD do qual gostassem. Tal qual nos tempos do disco de vinil, bastava que alguém o tivesse para que fosse possível copia-lo, sem perda de qualidade. Com a chegada do MP3, a situação tornou-se mais crítica, pois bastava um acesso a internet de banda larga para baixar o disco completo, sem a necessidade de comprá-lo efetivamente...
E é aí que começa o dilema: quedas dos números de vendas de CD´s e DVD´s, mudança do foco dos artistas, indo dos discos para os shows, um grande mercado informal e paralelo aos lojistas, grande aceitação do público e etc.. Mas por que o produto pirata faz sucesso no Brasil?
Vejamos:
Preço - É inquestionável que o preço de um CD ou DVD no Brasil é abusivamente caro. Enquanto nos EUA um CD custa em média de $13,00 a $15,00, por aqui ele sai em média R$ 35,00. DVD´s então, em média R$ 50,00. Num país onde um salário mínimo tem o estrondoso valor de R$ 380,00, um DVD e CD juntos custam, pelo menos, 22% dele!!! A partir disso, fica impossível para um lojista (que paga toda sorte de impostos) competir com uma cópia a R$ 10,00 no camelô, que não tem custo legal nenhum;
Cultura - Em geral, a população não se liga em capa, encartes, boxes (caixas especiais de um artista, com mais de um CD ou DVD): essas coisas são direcionadas aos mais fanáticos apenas. Deste modo, se o povão pode comprar um CD do Zezé de Camargo, com uma capinha vagabunda e ouvir as músicas do mesmo jeito, pagando apenas R$ 5,00, por que ele não o comprará?
Para piorar, temos a situação que afeta também a indústria cinematográfica: filmes que nem chegaram aos cinemas pirateados e disponbilizados ao público em cópias de qualidade razoável (dependendo do grau de exigência do comprador). Isso sem falar na Internet, onde também é possível baixar filmes completos, com excelente qualidade de som, imagem e legendas. A questão aqui é: um ingresso de cinema hoje (quase todos lotados em Shopping Centers, com toda uma estrutura de conforto, aúdio e vídeo super modernos) custa, média, R$ 15,00. Ou seja, um casal de namorados que não pague meia, gasta "apenas" R$ 30,00 para ir assitir um filme.
Comprar um pirata afeta a economia, a mesma economia que não permite emprego e salários decentes, que possibilitem o acesso do povo a cultura. Cinema, música, livros, teatro fazem parte de um cenário do qual grande parte da populção não tem acesso. Por conta disso , estamos presos num círculo vicioso onde todos são afetados, mas não se vê solução a curto, médio e longo prazo. O mercado ilegal não é efetivamente combatido pelo governo, os CD´s e DVD´s não diminuem de preço e aí a coisa se perpetua. Já se fala que o MP3 decretou a morte do CD, que a Internet será o fim da televisão como nós conhecemos, mas nada está sendo feito para que as realidades sejam adaptadas e que ninguém perca. Gravadoras, Artistas, Governo, Lojistas enfim, todos os envolvidos na criação, produção e distribuição de cultura audiovisual ainda insistem num modelo de mercado que o consumidor não aceita mais. Enquanto isso, vamos assitir tropa de Elite e Zeze de Camargo a "dez real".
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