segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Fulano de Tal Ao Vivo em Qualquer Lugar

Ontem estava comendo num Shopping com minha esposa e, em meio a uma das inúmeras televisões espalhadas pela praça de alimentação, passava o show do Calypso. Como eu estava distante, não podia ouvir a música (ainda bem!). Mas aquele show - uma baita super produção aliás, com um palco muito bem montado, cheio de cor e com imensos telões - me fez refletir. Não sou fã do Calypso, não gosto da múisca nem do estilo, mas já perdi as contas de quantos CD´s/DVD´s eu já vi no mercado com o nome estampado: "Calypso ao Vivo em...". Os caras tem disco ao vivo a dar com o pau! Ainda no Norte/Nordeste do país, a Bahia também é um estado profílico em discos ao vivo, pois quase todo mundo tem um (pode procurar!)... Se cairmos para o Sudeste, as famigeradas bandas de pagode também marcam presença com vários registros ao vivo de suas apresentações, seja em DVD ou CD. O Rock Nacional também aderiu, pois todo mundo já tem o seu ao vivo puro e simples, MTV ao Vivo ou Acústico MTV (dos quais já falei aqui uma vez, inclusive). Resumindo: hoje em dia, quem não tem material gravado ao vivo, está "out" no mercado.

Mas o que se conclui disso? Qual o problema? Resposta: Há alguns anos atrás (décadas de 80-90), antes do advento do CD, na era do vinil, a situação era outra. A gravação de um disco ao vivo era algo realmente importante, e geralmente só ocorria depois de muita estrada e uma carreira consolidada. Nem tanto no gênero pop, mas no Rock isso era quase uma regra: somente depois de 4 ou 5 discos é que se tinha o poder para lançar algo neste formato. Pensando bem, era algo até coerente, pois nessa altura do campeonato, 4 ou 5 albuns forneciam uma quantidade legal de material e, se fosse o caso, uma boa dose de hits para fazer o público delirar... E é aí que a coisa pega, pois tem gente que com 1 disco nas costas já lança disco ao vivo (!), isso sem contar os que já estreiam no mercado fonográfico em cima de um palco (!!).

E porque isso acontece? Três pontos são importantes, na minha modesta opinião:

1º) A era digital facilitou em muito as coisas. A captação de aúdio em shows ao vivo se tronou mais fácil e de maior qualidade, o que torna o resultado final melhor. Deste modo, um produto que antes era destinado a fas somente, hoje atinge mais gente, pois um disco ao vivo hoje tem a mesma qualidade de um feito em estúdio;

2º) O disco ao vivo te possibilita juntar sucessos num só disco sem efetivamente ter que apelar para uma coletânea (coisa que geralmente fica a cargo das gravadoras e sem tanto controle e/ou retorno para o artista. Além disso, em tempos de MP3, elas já não têm tanta força de vendas como antes). Juntar tudo tudo que o público conhece e botá-lo para cantar junto rende um bom espetáculo (bandas Bahianas que o digam);

Um 3º ponto, realmente crucial para esta nova tendência, foi o advento do DVD. Apesar do mercado do home vídeo ter encontrado público na época do VHS, foi o DVD que revolucionou o mercado fornográfico, com os artistas quase que obrigados a terem algo lançado no formato, por demanda do próprio público. A popularização do DVD, até entre as camadas mais pobres, fez com que artistas e gravadoras percebecem o potencial mercadológico e investissem pesado nisso.

Com isso, não fica difícil entender o grande número de lançamentos no formato que se encontram nas lojas e que a importância que um disco ao vivo tinha antes, passa batida hoje. Não se trata de coroar um carreira com um lançamento que comprove a qualidade do artista no palco, mas atender a uma demanda de público que pode assistir, com qualidade de cinema, um show ou um filme em sua casa, sem levantar da poltrona. Não que isso seja ruim, afinal sou um grande adepto de tudo que é digital, mas acho estranho ver um cidadão que eu nunca ouvi falar na vida com um DVD ao vivo sei lá aonde, sem ter nunca lançado um disco de estudio sequer. Para ter a mesma sensação, dá uma olhada nos DVD´s que eu achei na Internet: o mais "famoso" é o do Reginaldo Rossi...

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