Heavy Marketing



O Marketing é algo realmente poderoso, pois até no mundo do rock ele é muito utilizado. Não me refiro aquele Marketing barato baseado em escândalos ou em imagem de “Bad Boy” ou “Bad Girl”, tão comum hoje em dia e que muitos usam. Não me refiro a essa publicidade negativa e barata que coloca nomes em evidência, mas nem sempre por muito tempo ou com o resultado esperado, mas sim ao Marketing premeditado e com objetivos bem definidos. Em suma, uma verdadeira campanha de Marketing, só que no mundo da música. É claro que isso não é novidade, mas os avanços tecnológicos dos dias de hoje tornaram essa tática mais eficiente, abrangente e funcional. Para ilustrar esse assunto, falemos do novo álbum do Metallica, “Death Magnetic”, cujo lançamento mundial está previsto para o dia 12 deste mês e foi precedido de uma estratégia de Marketing interessante, justificada pela necessidade da banda se reerguer após o fracasso do álbum anterior, o famigerado “St. Anger”, de 2003.

Para quem não sabe, o Metallica é uma banda surgida em Los Angeles/CA em 1981 e que foi um dos pilares do Thrash Metal, atingindo o sucesso mundial com o álbum “Metallica” (ou Black Álbum, como também é chamado), de 1991, vendendo cerca de 15 milhões de cópias só nos EUA. Desde então, a banda entrou processo de declínio, comercializando seu som e se distanciando cada vez mais do seu passado. Com o lançamento de “St Anger” – que teve um processo de criação extremamente conturbardo, somada a uma crise interna que quase acabou com a banda – o Metallica enfrentou uma enxurrada de críticas, sendo abandonado inclusive por muito fãs mais radicais, que já não vinham satisfeitos com os rumos do grupo. Mesmo assim, o álbum teve bom desempenho nas paradas, mas é notório que o disco não figura na galeria dos principais trabalhos da banda. Para confirmar isso, nas recentes turnês do grupo nada desse CD foi tocado.

Nestes 5 anos sem lançar nada novo, além das constantes turnês, a banda iniciou o trabalho do novo disco. E desde aí se configurou o uso Marketing para atiçar os fãs, que apesar dos pesares, ainda torciam para que a banda mudasse de idéia e lançasse algo mais tradicional, pesado e rápido, como nos primeiros discos. Em 2006, a banda começou a executar ao vivo uma composição chamada apenas de “The New Song”. Não demorou para o vídeo cair no YouTube e servir de base para inúmeras discussões. Pouco depois, uma segunda música, curiosamente chamada de “The Other New Song” também começou a ser executada e também parou no YouTube. Apesar do perfil mais pesado e rápido, era impossível fazer uma avaliação dos rumos da banda por duas músicas inacabadas e executadas ao vivo. Entretanto, serviram manter em evidência o nome da banda pelo longo período que se seguiria até banda efetivamente entrar em estúdio e disco sair. Pelo o que se sabe até agora, não há informações sobre o aproveitamento deste material no novo disco.

Saltando no tempo e com a banda em estúdio em 2007, a estratégia de divulgação começou com a criação de um site chamado Mission: Metallica, onde seriam postadas informações regulares sobre as gravações, trechos de músicas e detalhes gerais sobre o disco. O site serviu para manter ampliar ao máximo a expectativa dos fãs, que aguardavam ansiosamente qualquer novidade, mas que tinham de se contentar as vezes com trechos de alguns segundos de faixas já finalizadas. O relacionamento com os fãs era estreitado com uma assinatura premium para os que já eram membros do site oficial da banda. Estes, obviamente, tinham a sua disposição mais informações do que os visitantes comuns. Neste meio tempo, apesar dos shows, nenhuma faixa nova era executada, garantindo o sigilo. Traduzindo em miúdos: criava-se uma extrema expectativa em cima do produto, de olho no aumento do demanda, essencial nestes dias de ascensão do MP3 e quedas nas vendas de CD´s.

A revelação do título foi outro capítulo a parte, uma vez que teve sua divulgação parcelada (?). A banda disponibilizava parte do logotipo com poucas letras e embaralhadas de tempos em tempos. Com isso, levou-se mais um tempo até que o nome “Death Magnetic” fosse conhecido. O mesmo não ocorreu com a capa e o track list, divulgados há algum tempo atrás, numa só tacada. Mesmo assim, a banda obteve sucesso em manter para si a atenção e a expectativa do mundo inteiro sobre o seu lançamento.




No que se refere a divulgação das faixas, a banda optou por tocar, somente um mês antes do lançamento oficial, uma nova faixa ao vivo. “Cyanide” foi executada em 9 de Agosto no Texas, durante o festival Ozzfest e rapidamente parou no YouTube. Em 21/8, a banda liberou uma faixa de estúdio, “The Day That Never Comes”, essa sim o primeiro single oficial e primeiro vídeo do álbum (que ainda seria gravado). Com a liberação do primeiro áudio oficial, criou-se a expectativa do vídeo, também explorada no site da banda e no site do disco, inclusive com a liberação de uma prévia. Em 25/8, outra faixa é liberada, “My Apocalypse”. Em 1/9 o vídeo sai e tem veiculação apenas no site da banda (o que foi postado no YouTube foi retirado por conta de direitos autorais). No mesmo dia, é liberado também a versão de estúdio de “Cyanide”.

Tudo isso não deixa de ser curioso, pois a maior parte do processo de Marketing e divulgação do álbum contou com a Internet, sendo que foi notória a briga da banda em 2000/2001 contra o Napster, site de troca de arquivos e que segundo o grupo incentivava a pirataria e quebra dos direitos autorais e de propriedade. Foi uma atitude extremamente impopular, e que soa mais ridícula ainda ao ver que a banda se usou fartamente da mesma Internet que combateu no passado a fim de se promover. Como o que importa é o disco novo, a estratégia deu certo, com todos os olhos (e ouvidos) voltados para este lançamento. Pode até ser que o produto não seja lá essas coisas, mas atrair a atenção do consumidor, ele já atraiu.

A estratégia só não saiu perfeita por um pequeno detalhe: ontem, uma loja na França, “sem querer”, colocou o disco a venda indevidamente, 9 dias antes do previsto... Não preciso dizer que o disco já caiu na rede e que a pirataria vai comer solta. Como eu sei disso? Um amigo já me passou o link para baixá-lo na integra... mas isso é segredo e eu não vou contar para ninguém!

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