A Onda Obama


Óbvio que o assunto do momento é a vitória arrasadora de Barack Obama e seu impacto não só nos EUA, mas em todo o mundo. Não vou aqui falar sobre Obama em si e sua história, uma vez que há farto material sobre ele em todas as mídias disponíveis por aí. Mas três coisas em específico me chamaram a atenção, e é sobre elas que gostaria de falar: a percepção das pessoas sobre o que representa essa eleição (inclusive aqui no Brasil), a democracia nos EUA x democracia no Brasil e por fim: o que Obama pode (ou não) fazer?


É simplesmente assustadora a proporção tomada pela eleição de Obama, mediante a exaltação da cor da sua pele, da possibilidade de renovação, da tábua de salvação no meio do naufrágio do Governo Bush (aliás, magnífica a charge do Aroeira acima, não? Muito engraçada!), enfim de toda uma perspectiva de reversão do quadro negativo dos EUA e da crise mundial em si, uma vez que o que acontece lá reflete no mundo todo. Mas o que me incomoda um pouco é a extrema ênfase que é dada à cor de Barack, como se isso fosse a maior de suas virtudes. É claro que é um marco, num país extremamente racista, um negro assumir a presidência, mas isso não pode ser colocado acima de sua capacidade de dirigir uma nação. Do jeito que a mídia trata o assunto, pode-se pensar que isso foi um fator decisivo para sua eleição, o que não ocorreu. Os americanos escolheram entre a continuidade e a mudança, e ganhou a mudança. Obviamente um dos grandes eleitores de Obama foi o trágico governo Bush, o que colocou Mcain numa posição difícil de reverter. Além disso, as posições tomadas por Obama em assuntos ignorados por Bush (meio ambiente, por exemplo), ajudaram a consolidar sua figura. Aliás, junto à imagem de 1º presidente negro, vem a de “nice guy” (cara legal). Falo isso porque o governo brasileiro tem essa impressão, acreditando que agora, mais do que nunca, estaremos próximos dos EUA. Já chegaram ao cúmulo de comparar as trajetórias de Obama e Lula (meu Deus...) na ânsia de traçar paralelo e afinidade entre ambos. Fora o sentimento de mudança no momento de sua eleição, Lula nada mais tem em comum com Obama, que além de experiência política, é formado numa das melhores universidades do mundo, ao passo que nosso presidente nem falar direito sabe (isso sempre me incomodou muito: para conseguir um emprego no Brasil, é necessária a maior escolaridade e cultura possíveis, mas para um presidente não!). Obama pode ser uma figura cativante, mas não se pode esquecer que ele precisa atender aos anseios da nação que o elegeu – a maior do mundo – o que não significará atender aos anseios de outras nações.

Já falei em outras ocasiões que me revolta a exaltação de Democracia que se faz aqui, principalmente nas últimas eleições, onde, na verdade, a única coisa que se tem de bom é uma urna eletrônica. E só. Mais ainda me revoltou ver brasileiro criticando o sistema eleitoral americano. É um sistema antigo (data do século 19), confuso pacas, não é eletrônico, tem falhas, mas para eles funciona! Todo mundo aceita e participa dele quando quer, pois o voto não é obrigatório. Para mim, democracia é o que se viu lá, com as pessoas, mesmo sem obrigação para tal, se movimentando em favor das campanhas dos candidatos, enfrentando filas para votar num dia que não foi feriado, em suma, correndo atrás atrás da mudança de suas vidas face um governo de 8 anos de puro desastre. Por acaso fazemos isso aqui? Tem alguém correndo atrás por conta de 8 anos de Lula??? Tem alguém questionando porque num país de 3º mundo como o nosso somos obrigados a votar e nada muda, enquanto num país desenvolvido as coisas vão mudar (pode até não ser tanto quanto a expectativa pede, mas Bush fora do poder já é um avanço) porque povo se manifestou, por pura consciência patriótica? Obama tem daqui para frente um peso enorme para carregar, uma vez que a Democracia de uma nação lhe imputou a responsabilidade de mudar um quadro que não a agradava. Infelizmente, aqui no Brasil se cumpre a obrigação de eleger alguém para um cargo para o qual não se fará nada, pelo menos para o povo...

Mas o que Obama fará? Salvará os EUA e o mundo? É o que falei acima: em primeiro lugar, ele vai arrumar dentro de casa e vai tentar reverter o déficit orçamentário de 455 bilhões de dólares, resgatando a economia do país. Isso vai implicar em protecionismo, bem diferente da abertura que muitos aguardam, inclusive aqui no Brasil. Não se pode esquecer que Obama precisa dar conta dos quase 64 milhões de votos recebidos, e para isso precisará reduzir os índices de desemprego, restabelecer a economia, cuidar da questão do Iraque, do meio ambiente, a bolha imobiliária americana, tudo isso sob a perspectiva de que ele será mágico (como muitos acham) ao tratar destas e de outras questões problemáticas. Para resolver isso tudo, Obama não poderá ser pulso fraco ou ser aberto demais a outras questões (concessões a América Latina, como por exemplo). Tudo isso ficará para segundo plano (ou talvez um segundo mandato, quem sabe?), frente às questões prioritárias. O mais importante é que, agora é uma espécie de “popstar” para o mundo inteiro, mas uma hora essa aura o abandonará, pois ele passará a ser o Presidente do estados Unidos da América, com a difícil missão de agradar a Gregos e Troianos, pois ambos votaram nele.

Comentários

Anônimo disse…
"Para mim, democracia é o que se viu lá, com as pessoas, mesmo sem obrigação para tal, se movimentando em favor das campanhas dos candidatos, enfrentando filas para votar num dia que não foi feriado, em suma, correndo atrás atrás da mudança de suas vidas face um governo de 8 anos de puro desastre. Por acaso fazemos isso aqui? "

Ah! Se isso acontecese aqui... Mas a cada dia que passa me convenço que é um sonho impossível. A erdade é que ninguém quer mudar nada, pois as pessoas só olham p/ próprio umbigo (ou melhor, imbigo, como se fala por aí!rssss)
quanto ao Obama (ò o Obama aí ó!rsss), o maior desafio dele é a crise mesmo, a situação é desesperadora. abraços!
Dirceu.

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