Rio de Janeiro, Chuvas e o Mesmo de Sempre
Mais uma vez, tragédias relacionadas à chuva no mês de Janeiro acontecem no Rio. Algo previsível, que todo sabe que vai acontecer e que, quando ocorre, deixa todo mundo pasmo. Mas qual a razão disso, uma vez que se trata de tragédia anunciada? Qual a razão do espanto? Simplesmente porque o resultado é o que está acontecendo agora, depois que tudo foi destruído, entre vidas e bens materiais: o governo se mobiliza com grande alarde, deixando transparecer que, apesar de nunca ter feito nada para mudar esta situação, vai fazer o possível e o impossível para ajudar quem foi afetado, ao passo que a população se une numa corrente para arrecadar donativos e ajudar desabrigados e necessitados. Entretanto, essa não me parece ser a história correta.
É óbvio que nossos governantes cagam para este tipo de problema, pois é mais visível aos olhos do eleitor reformar ou construir uma praça, por exemplo, do que fazer qualquer trabalho de contenção de encostas. Não existe uma política voltada para este tipo de infra estrutura. Ou melhor dizendo, não existe no Brasil uma política de infra estrutura seja em qualquer segmento. Voltando ao problema das chuvas, nada é feito após o Verão para se resolver este problema crônico. O melhor exemplo – ou pior, dependendo do ponto de vista – seria a tragédia de 2010 na Ilha Grande. O governador Sérgio Cabral fez lá a mesma coisa que fez agora na região Serrana do Rio: mostrou a cara de indignação, foi solidário, anunciou um monte de providências e o resultado foi nulo. O local da tragédia continua na mesma, o dinheiro para a reconstrução não chegou lá e todas aquelas palavras se perderam no vento do descaso de nossos governantes.
Por mais sórdido que possa parecer, outro dia pensei no seguinte: quantos eleitores do Cabral morreram ou foram afetados por esta tragédia? Quero deixar claro que não acho que a tragédia seja culpa dele, mas é ele quem está no poder agora e no seu primeiro mandato não fez nada para mudar esta realidade. Ele simplesmente deu andamento ao descaso tradicional de todas as esferas governamentais sobre este problema. O que mais me incomoda é que ele é o típico Brasileiro: só toma alguma providência depois que a merda está feita. Taí o episódio dos traficantes no Rio de Janeiro, que tomou conta dos noticiários no fim do ano (e já sumiu deles, diga-se de passagem) que não me deixa mentir. Com o brilhantismo dele em tirar bandido de morro sem prender ninguém, o que nos deixou a beira do caos e da desordem, toda aquela mobilização militar só aconteceu porque coisa ficou sem controle. Isso já deveria ter sido feito anos e anos atrás, antes de chegar ao limite que chegou. Pior: será que já está resolvido?
O mesmo se aplica o caso das chuvas, pois a mobilização do governo é grande. Até a presidente Dilma (Meu Deus, ainda é difícil dizer isso, do mesmo jeito que era difícil dizer presidente Lula) veio ver o problema in loco e aí o discurso demagogo passa a ter esfera federal. Recursos e mais recursos, liberação de FGTS, auxilio aluguel, bolsa família e etc., ou seja, um caminhão de dinheiro que vai se perder de novo no turbilhão de corrupção que assola esse país. Mais aí é que eu pergunto: por que é que o povo nunca lembra disso na hora de votar? Por que não pensam que na hora do voto, ele tem de ser dado a alguém que vá fazer algo? Alguém pensou nisso na hora de votar na Dilma, por exemplo? No Cabral? Ou em tantos outros que já passaram na político do estado e do Brasil? Tudo bem que não temos opção de candidatos e nossa constituição é merda, um baita colcha de retalhos com brechas jurídicas para ferrar o povo e ajudar aos poderosos, mas por que o povo não se esforça para mudar isso? Por que não pressionar para que algo seja feito, acabando com a passividade pela qual o Brasileiro é conhecido mundialmente? Verdade seja dita: brasileiro é um povo que não luta por porra nenhuma. Ou melhor, luta sim por duas coisas: para pular Carnaval e ver Futebol...
Estamos no fim de Janeiro e garanto que em Março, em pleno Carnaval, não ouviremos mais nada sobre mais esta tragédia. Me pergunto o que farão aquelas pessoas sem casa, sem roupas, sem familiares e pior, sem nenhuma garantia de que o governo se lembrará delas. Nem esse e nem o próximo.
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