Os Desafios Perdidos de Dilma
Devo confessar que o governo Dilma me surpreendeu, caminhando numa direção da qual eu não esperava. Obviamente que minha surpresa não vem de um governo espetacular, mas, sinceramente, a coisa não está trágica como achei que seria, vinda de uma indicação direta de Lula. Para quem não sabe, sempre achei Lula um dos maiores equívocos políticos já ocorridos neste país, numa gestão que misturou sorte, populismo exagerado, muita vista grossa, cara de pau e altos índices de corrupção e impunidade. Mais do que tudo, foi um governo triste do ponto de vista de quem via um grande parte da população cega por uma figura que não possuia nenhuma ética, apenas a vontade de ser adorado pelas massas, não se importando com leis ou qualquer senso de justiça e honestidade. Mas que uma coisa fique clara: Dilma não conseguirá muita coisa e, na minha visão, a coisa vai começar a complicar muito breve. Não se trata de pessimismo puro e simples, mas de uma leitura dos fatos do presente que dão uma idéia clara do futuro.
Voltando a Dilma, seu desligamento de Lula me surpreendeu sendo maior do que esperava - ainda que ele exista e o ex-presidente continue intervindo, e nem tanto na surdina como seria de se supor. Entretanto, esse desprendimento não é grande e 8 meses depois, com 4 ministros substituídos por corrupção (3) e por insubordinação (1), iniciou-se um processo que se tornou uma faca de dois gumes para Dilma: enquanto a população e mídia enxergam uma"faxina ética", seus aliados visualizam uma gestora de difícil relação, que não vem se importando em desmantelar em "estruturas" já consolidadas dentro do governo e que envolvem muita gente. Pior: ao mexer nestes pequenos "impérios partidários", ela começa a transmitir à opinião pública a sensação de que o governo Lula foi conivente com a corrupção, uma vez que todos os ministros desligados (e seus asseclas) também faziam parte do governo e da base aliada anterior.
Para quem não entendeu, basta visualizar o seguinte: Dilma recebeu os votos de Lula e o apoio maciço da grande base aliada, incluindo nomes da oposição (que não viam como ir contra Lula e a sua popularidade). Com isso, tivemos uma curiosa grande disparidade entre aliados e oposição - tornando esta última ineficiente, praticamente nula, principalmente no segundo mandato. Quando Lula saiu e Dilma entrou, todo mundo resolveu apoia-la, pois todos tinham a clara idéia de continuidade de governo em TODOS os sentidos. Se Lula, mesmo no meio dos maiores escândalos pensava um milhão de vezes antes de afastar alguém, porque Dilma não o faria? O problema é que, mesmo com o cordão umbilical de Dilma e Lula ainda existente, os estilos são diferentes... Dilma agiu rápido (ou pelo menos muito mais rápido que Lula) e, mesmo contra a maré, mandou passear os Ministros e Assessores envolvidos em histórias mal contadas, mexendo em grandes vespeiros de interesses.
E é aí que perco a fé que já não tinha: como é que um(a) Presidente vai governar neste paradoxo? Ela precisa do apoio desses mesmos políticos corruptos, e daí não pode afastá-los. Se os afasta, perde apoio; se não o faz, cai no desgosto da parcela mais informada e consciente da população. Mas aí você, caro leitor, pode até perguntar: a parcela da população que votou e elegeu Dilma não é justamente a da menos informada, a maioria da população? Com isso ela não teria de se preocupar com esta minoria da elite, certo? O único problema é que pesquisas revelam que o nível de esclarecimento dentro da classe C tem aumentado, o que consequentemente eleva o número de pessoas com maior percepção do que é feito ou não pelos políticos. Para quem não percebeu, esse fenômeno é decorrente de um tiro no pé do próprio Lula: com o crescimento do crédito e maior poder de consumo (seu grande trunfo de governo), esta ascendente classe C teve acesso a mais informação (computador, Internet, livro, lazer e cultura e etc.) e hoje começa a ter um perfil diferenciado se comparado com alguns anos atrás.
Neste quadro, fica difícil ter fé de que algo vá melhorar, pois se Dilma não tirar o pé do freio, corre o risco de ter seu governo muito dificultado por uma base aliada que se transformará numa oposição feroz, incluindo aí o próprio PT(que também têm se sentido excluído). Isso só reforça o sistema político ultrapassado e ineficiente que temos, que favorece apenas a corrupção e sua perpetuação, sem rimar, para fechar o texto, com punição...
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