DETRAN!
Mesmo com todo o avanço econômico e social dos últimos anos, todo mundo sabe que o Brasil ainda é um país de terceiro mundo. A grande questão é se um dia ainda teremos uma condição superior em termos de desenvolvimento, chegando ao mesmo patamar das grandes potências mundiais como Estados Unidos, Alemanha ou Japão. Como isso depende de uma combinação (histórica) de diversos valores como educação, economia, política, recursos naturais e etc., para o Brasil chegar lá é preciso fazer a história do jeito certo – e a nossa até então está mais do que errada. Cá entre nós, sendo muito franco, acho que nunca acontecerá essa evolução: as razões são muitas e motivo para muitos outros textos mais, que ficarão para o futuro. Por ora, vamos falando do nosso dia a dia, que é o que nos resta num país tão bagunçado, mal administrado, cheio de corruptos, gente mal educada, mal alimentada e sem teto entre outros adjetivos mais.
Pode parecer pessimismo exarcebado, mas em todos os setores de nossa sociedade vemos reflexos dessa má formação social. Sendo mais específico, dentre uma gama muito grande assuntos, quero falar do trânsito. Sim, trânsito. Isto é um fator social tão importante e tão sério, que deveria ter mais atenção do que tem hoje em dia. Na realidade, a atenção até ele tem, mas com certeza não é séria como deveria. Engenharia de trânsito, engenharia de tráfego, falta de fiscalização, legislação deficiente/inexistente, corrupção, malha rodoviária em péssimas condições e etc: viram quanta coisa? Entretanto, em meio a esse mar de coisas ruins e não funcionais, os DETRANs tem se sobressaído em termos de organização e infraestrutura, somente comparadas ao fisco. O motivo? Simples: quanto melhor a estrutura, mais dinheiro se arranca do contribuinte. Se esse dinheiro será usado de volta em seu benefício já são outros quinhentos...
Esse assunto me chamou a atenção em específico porque passei recentemente pela via crucis que é tirar uma habilitação de motorista. Antes de falar no que ocorre hoje, vamos ser justos e voltar no tempo onde as coisas não eram tão “bonitas” como atualmente. Não sei exatamente há quantos anos atrás, mas me lembro de que o DETRAN era uma bagunça, onde a falta de integração de informações tornava muito fácil à ocorrência de falhas e de fraudes. Quem não se lembra da facilidade que era “comprar” uma carteira de motorista? Como muita gente já dirigia (tranquilamente) sem habilitação, era mais fácil comprar direto a carteira para entrar na legalidade, do que ter de fazer auto-escola e seguir o trâmite da época para fazê-lo. Outro detalhe era que o próprio processo dentro da auto-escola era corrido, ou seja, parte teórica e prática eram feitas de uma única vez, sendo que somente depois se seguiam as provas no DETRAN. Sem um controle rígido, era impossível atestar o cumprimento de todas as etapas de treinamento pelo candidato, comprovando sua devida “educação” em acordo com as leis de trânsito vigentes na época. Para completar, a corrupção no momento da fiscalização era regada à base de “cafezinho” e “cervejinha” para os guardas, isso sem falar no “sumiço” de multas no sistema do DETRAN. Os anos passaram, o DETRAN se informatizou, se interligou a nível Brasil, enrijeceu a regulamentação para criação e funcionamento das auto-escolas, instituiu o Código de Trânsito Brasileiro e o pior de tudo, criou a “fábrica de multas” através de pardais e radares, que geram milhões ao Estado. Em resumo, o DETRAN hoje conta com uma estrutura que fiscaliza e tira dinheiro do contribuinte, mas que de maneira nenhuma contribui efetivamente para uma educação do motorista, bem como não pune o motorista infrator, apesar dos artigos severos da lei. Em miúdos, não vale o que está escrito.
Gastei praticamente o um ano que o DETRAN concede, desde a abertura do processo, para concluir a retirada da habilitação. Tenho de ser sincero em admitir que isso ocorreu por minha culpa e problemas pessoais na época, mas mesmo assim o processo é muito demorado e – pasmem – improdutivo e cansativo. Diferentemente do passado acima citado, o processo dentro da auto-escola consiste uma primeira fase onde o candidato assiste uma grande quantidade de aulas teóricas (vídeos), repetidas vezes (que variam de acordo com a duração do vídeo frente à quantidade de horas aula para aquele tema). Já temos a primeira pergunta: o que nos garante que assistir a 10 vezes o mesmo vídeo, será a certeza de alguém irá dirigir plenamente, ou, pelo menos, ter plena ciência das leis que o governam? O próprio nome diz: auto-escola. Se escola é lugar de aprender, como é que se aprende apenas vendo televisão, sem uma aula sequer na sua concepção original, ou seja, com alguém ensinando? O mesmo instrutor que ensina a prática no carro deveria ensinar a teoria, transmitindo seu conhecimento em paralelo a qualquer que seja o recurso educacional complementar utilizado. Antes que eu me esqueça: a introdução do registro de presença via digital (dedo mesmo) garante que você vai assistir todas as aulas necessárias para a formação teórica, apesar do equívoco educacional acima citado. Se não colocar o dedão lá, a quantidade de aulas não é atingida e você não avança em hipótese alguma, pondo um fim aquela antiga prática de comprar a carteira sem fazer uma aula sequer. O mesmo ocorre já nas aulas de direção. Depois de dormir em inúmeros vídeos educativos, sem uma aula de verdade sequer, sem uma orientação formal de instrução, o candidato já vai ao DETRAN fazer a prova teórica. Verdade seja dita, apesar da pobreza de instrução que é a fase teórica, é de uma lógica gigante só permitir que só faça a aula prática quem já passou na parte teórica.
Passada essa fase, as aulas práticas já são dadas com base no novo código de trânsito, que no papel é simplesmente lindo, algo de 1º mundo. Nessa hora, surgem dois problemas: 1º) no trânsito, seja pela auto-escola, seja de carona, ou seja, dirigindo, você percebe que ninguém faz nada do que você está aprendendo! Chegar a ser absurda a diferença entre o que você aprende como certo e o que se pratica no dia a dia. É fácil se chegar à conclusão que mesmo a nova safra de motoristas não segue o que é ensinado, mesmo com novas regras. 2º) Não há legislação punitiva para quem não cumpre a lei (novidade!). A mídia noticia todo dia casos e mais casos de crimes no trânsito que ficam impunes porque nossas leis têm mais brechas e furos do que se pode imaginar, o que gera uma clara sensação de que, haja o que houver, nada acontecerá a quem mata ou mutila no trânsito. Passada a fase de assistir TV, chega a hora da prática. Lembrando: só vai sentar ao volante quem passou na prova teórica. Se não passou, volta ao início e assim vai, até conseguir passar. O próprio sistema do DETRAN vai identificar que o candidato tem de reiniciar o processo, e não o deixa avançar. Voltando à prática, as aulas se dividem em diurnas (maioria) e noturnas. É óbvio que ali o instrutor vai te mostrar o mundo perfeito de Alice, onde você utiliza TODAS as sinalizações e TODOS os procedimentos possíveis e imaginários, fazendo de você um motorista PADRÃO. Difícil é fazer isso olhando para os lados, vendo motoristas barbarizando, sendo que eles mesmos já estiveram no seu lugar um dia...
Concluídas todas as aulas, a auto escola vai te habilitar a fazer a prova prática. É difícil, mas muito difícil mesmo, entender como o DETRAN avalia quem passa ou não na prova. Num primeiro momento, é até simples: você senta no carro, faz o ritual padrão e passa (ou não). Mas o que é difícil de entender nisso? Justamente o fato de você adquire o direito de dirigir fazendo uma coisa ensaiada. O processo de avaliação consiste em você fazer um trajeto exatamente IGUAL para qualquer candidato, independente do dia ou hora em que ele esteja fazendo a prova. Aí eu pergunto: o trânsito do dia a dia é previsível e ensaiado? Mas serei mais claro: fazer uma baliza (tirar e colocar o carro na vaga) e fazer um percurso retangular, só virando para a direita (só precisa ligar a seta), andando nas mesmíssimas velocidade e marcha (respectivamente 40 km e 3ª), correndo o risco de, no máximo, ter de parar num único sinal! A única chance de você ser reprovado (sem contar, ÓBVIO, se você não souber mesmo dirigir) é não conseguir botar e tirar satisfatoriamente o carro da vaga em 4 minutos ou esquecer uma seta na hora de virar ou mudar de faixa. É claro que tem gente que passa e tem gente que não passa, mas é mais certo ainda que passa muita gente que não dirige patavina (mas ensaiou direito) e muita gente que dirige, mas se deixou levar pelo nervosismo e comete um erro tolo. E é aí que me pergunto como é que tem tanta gente que dirige pior que o Mr. Magoo (alguém aí lembra?) e com a carteira na mão. E a resposta é simples: ensaiou direitinho!
Ah, quase me esqueço: se você não passou, paga um novo DUDA para fazer o novo exame. Agora, se você não passou e o seu um ano de prazo expirou, é melhor ainda: paga o novo DUDA e vai ter de fazer TUDO DE NOVO!
Esse assunto me chamou a atenção em específico porque passei recentemente pela via crucis que é tirar uma habilitação de motorista. Antes de falar no que ocorre hoje, vamos ser justos e voltar no tempo onde as coisas não eram tão “bonitas” como atualmente. Não sei exatamente há quantos anos atrás, mas me lembro de que o DETRAN era uma bagunça, onde a falta de integração de informações tornava muito fácil à ocorrência de falhas e de fraudes. Quem não se lembra da facilidade que era “comprar” uma carteira de motorista? Como muita gente já dirigia (tranquilamente) sem habilitação, era mais fácil comprar direto a carteira para entrar na legalidade, do que ter de fazer auto-escola e seguir o trâmite da época para fazê-lo. Outro detalhe era que o próprio processo dentro da auto-escola era corrido, ou seja, parte teórica e prática eram feitas de uma única vez, sendo que somente depois se seguiam as provas no DETRAN. Sem um controle rígido, era impossível atestar o cumprimento de todas as etapas de treinamento pelo candidato, comprovando sua devida “educação” em acordo com as leis de trânsito vigentes na época. Para completar, a corrupção no momento da fiscalização era regada à base de “cafezinho” e “cervejinha” para os guardas, isso sem falar no “sumiço” de multas no sistema do DETRAN. Os anos passaram, o DETRAN se informatizou, se interligou a nível Brasil, enrijeceu a regulamentação para criação e funcionamento das auto-escolas, instituiu o Código de Trânsito Brasileiro e o pior de tudo, criou a “fábrica de multas” através de pardais e radares, que geram milhões ao Estado. Em resumo, o DETRAN hoje conta com uma estrutura que fiscaliza e tira dinheiro do contribuinte, mas que de maneira nenhuma contribui efetivamente para uma educação do motorista, bem como não pune o motorista infrator, apesar dos artigos severos da lei. Em miúdos, não vale o que está escrito.
Gastei praticamente o um ano que o DETRAN concede, desde a abertura do processo, para concluir a retirada da habilitação. Tenho de ser sincero em admitir que isso ocorreu por minha culpa e problemas pessoais na época, mas mesmo assim o processo é muito demorado e – pasmem – improdutivo e cansativo. Diferentemente do passado acima citado, o processo dentro da auto-escola consiste uma primeira fase onde o candidato assiste uma grande quantidade de aulas teóricas (vídeos), repetidas vezes (que variam de acordo com a duração do vídeo frente à quantidade de horas aula para aquele tema). Já temos a primeira pergunta: o que nos garante que assistir a 10 vezes o mesmo vídeo, será a certeza de alguém irá dirigir plenamente, ou, pelo menos, ter plena ciência das leis que o governam? O próprio nome diz: auto-escola. Se escola é lugar de aprender, como é que se aprende apenas vendo televisão, sem uma aula sequer na sua concepção original, ou seja, com alguém ensinando? O mesmo instrutor que ensina a prática no carro deveria ensinar a teoria, transmitindo seu conhecimento em paralelo a qualquer que seja o recurso educacional complementar utilizado. Antes que eu me esqueça: a introdução do registro de presença via digital (dedo mesmo) garante que você vai assistir todas as aulas necessárias para a formação teórica, apesar do equívoco educacional acima citado. Se não colocar o dedão lá, a quantidade de aulas não é atingida e você não avança em hipótese alguma, pondo um fim aquela antiga prática de comprar a carteira sem fazer uma aula sequer. O mesmo ocorre já nas aulas de direção. Depois de dormir em inúmeros vídeos educativos, sem uma aula de verdade sequer, sem uma orientação formal de instrução, o candidato já vai ao DETRAN fazer a prova teórica. Verdade seja dita, apesar da pobreza de instrução que é a fase teórica, é de uma lógica gigante só permitir que só faça a aula prática quem já passou na parte teórica.
Passada essa fase, as aulas práticas já são dadas com base no novo código de trânsito, que no papel é simplesmente lindo, algo de 1º mundo. Nessa hora, surgem dois problemas: 1º) no trânsito, seja pela auto-escola, seja de carona, ou seja, dirigindo, você percebe que ninguém faz nada do que você está aprendendo! Chegar a ser absurda a diferença entre o que você aprende como certo e o que se pratica no dia a dia. É fácil se chegar à conclusão que mesmo a nova safra de motoristas não segue o que é ensinado, mesmo com novas regras. 2º) Não há legislação punitiva para quem não cumpre a lei (novidade!). A mídia noticia todo dia casos e mais casos de crimes no trânsito que ficam impunes porque nossas leis têm mais brechas e furos do que se pode imaginar, o que gera uma clara sensação de que, haja o que houver, nada acontecerá a quem mata ou mutila no trânsito. Passada a fase de assistir TV, chega a hora da prática. Lembrando: só vai sentar ao volante quem passou na prova teórica. Se não passou, volta ao início e assim vai, até conseguir passar. O próprio sistema do DETRAN vai identificar que o candidato tem de reiniciar o processo, e não o deixa avançar. Voltando à prática, as aulas se dividem em diurnas (maioria) e noturnas. É óbvio que ali o instrutor vai te mostrar o mundo perfeito de Alice, onde você utiliza TODAS as sinalizações e TODOS os procedimentos possíveis e imaginários, fazendo de você um motorista PADRÃO. Difícil é fazer isso olhando para os lados, vendo motoristas barbarizando, sendo que eles mesmos já estiveram no seu lugar um dia...
Concluídas todas as aulas, a auto escola vai te habilitar a fazer a prova prática. É difícil, mas muito difícil mesmo, entender como o DETRAN avalia quem passa ou não na prova. Num primeiro momento, é até simples: você senta no carro, faz o ritual padrão e passa (ou não). Mas o que é difícil de entender nisso? Justamente o fato de você adquire o direito de dirigir fazendo uma coisa ensaiada. O processo de avaliação consiste em você fazer um trajeto exatamente IGUAL para qualquer candidato, independente do dia ou hora em que ele esteja fazendo a prova. Aí eu pergunto: o trânsito do dia a dia é previsível e ensaiado? Mas serei mais claro: fazer uma baliza (tirar e colocar o carro na vaga) e fazer um percurso retangular, só virando para a direita (só precisa ligar a seta), andando nas mesmíssimas velocidade e marcha (respectivamente 40 km e 3ª), correndo o risco de, no máximo, ter de parar num único sinal! A única chance de você ser reprovado (sem contar, ÓBVIO, se você não souber mesmo dirigir) é não conseguir botar e tirar satisfatoriamente o carro da vaga em 4 minutos ou esquecer uma seta na hora de virar ou mudar de faixa. É claro que tem gente que passa e tem gente que não passa, mas é mais certo ainda que passa muita gente que não dirige patavina (mas ensaiou direito) e muita gente que dirige, mas se deixou levar pelo nervosismo e comete um erro tolo. E é aí que me pergunto como é que tem tanta gente que dirige pior que o Mr. Magoo (alguém aí lembra?) e com a carteira na mão. E a resposta é simples: ensaiou direitinho!
Ah, quase me esqueço: se você não passou, paga um novo DUDA para fazer o novo exame. Agora, se você não passou e o seu um ano de prazo expirou, é melhor ainda: paga o novo DUDA e vai ter de fazer TUDO DE NOVO!
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