domingo, 15 de outubro de 2017

Marketing de Realidade











2017 e Mais um Rock in Rio...


Com o fim do Rock in Rio deste ano, fiz uma reflexão mais profunda e devo confessar que mudei algumas das minhas opiniões sobre o festival. Nas edições passadas, fui um crítico severo das escalações, até mesmo na grade de bandas de Metal, estilo que mais gosto. Entretanto, cheguei a uma conclusão central, e que embasa todo este meu texto: o Rock in Rio é um festival de música, no seu conceito mais amplo, quase que livre de estilos (eu disse quase, pois algumas aberrações como funk, pagode e sertanejo ainda estão de fora, pelo meno por enquanto) e não um festival de Rock ou de Metal exclusivamente. 

Todos esses anos de reclamação e autotortura por ver atrações mega/super/ultra pop foram desnecessários, pois basta enxergar que o Festival tem de agradar diversas tribos, tem de ter apelo comercial e tem de dar lucro (sim, lucro!). Na minha opinião, ficamos presos ao estigma da edição de 1985 onde, num momento em que éramos pobres de artistas estrangeiros, pudemos ver bandas que estavam no auge e que, em outra situação, nem tão cedo poriam o pé no Brasil. Ver AC/DC, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Queen, Scorpions e Yes foi algo tão fantástico que ofuscou as escalações deveras deslocadas de Ney Matogrosso, Elba Ramalho,  Ivan Lins, Moraes Moreira, Erasmo Carlos e outros. Não que fossem artistas ruins – pelo contrário, todos com seu valor dentro da MPB – mas destoavam muito do cast headliner do festival. De ruim, ruim mesmo, só Nina Hagen, que ninguém conhecia antes e todo mundo se esqueceu logo depois. Acho que, involuntariamente, ao conseguir um cast internacional tão maravilhoso logo na primeira edição, deixou o Rock in Rio com a marca de festival de Rock/Metal, o que ele não é.

Voltando a edição desse ano, gostaria de falar primeiro do público brasileiro, que é bastante peculiar. Ficou totalmente evidente que se tem uma coisa que o Brasileiro gosta no Rock in Rio, não é de música em primeiro lugar, mas sim de reclamar. Além das óbvias reclamações do cast do festival, era facílimo encontrar na internet reclamações sobre a transmissão do festival feita pelo canal de TV fechada Multishow, onde, entre várias coisas, o principal era a qualidade do som. Baixo, alto, sem grave, com grave, muito agudo, a voz baixa, má equalização eram alguns dos motivos que os experts em sonorização encontravam para criticar a transmissão feita. Agora paremos para pensar: 1) Era possível assistir quase todo o festival sentado no sofá de casa, pois a transmissão foi na íntegra, perdendo apenas no momento de shows em paralelo no palco Sunset e no palco Mundo, onde o segundo sempre tinha preferência. 2) Se a pessoa não foi, apenas duas razões: ou não quis, ou estava sem dinheiro. Para ambas, a transmissão era a chance de ver (quase) tudo, “teoricamente” de graça. Se a transmissão fosse em mono, com a tela em preto e branco, já valeria a pena, pois só assim veria tudo ao vivo. Mas a transmissão foi excelente, com o melhor áudio que vi até me todas as transmissões de RIR já feitas pelo canal. Agora, se a voz Axl Rose sumia, tenha certeza que a culpa não era da transmissão... mas falo disso mais a frente.

Outro detalhe foi a escalação do palco Sunset deste ano, que foi simplesmente uma das piores que já vi. As combinações efetuadas entre artistas diferentes, característica central deste palco, foram as mais esquisitas de todas as edições. Tudo bem que nomes novos se misturaram a antigos, mas é notória a falta de bons nomes para este conceito de mistura de estilos. E uma triste realidade se confirma: o cenário nacional está muito, mas muito pobre musicalmente... E isto não é fruto de uma mente nostálgica que só pensa no Rock Nacional dos anos 80, mas de uma constatação que se mostra real e concreta. Os últimos grandes nomes que se seguiram a Legião Urbana, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho e muitos outros mais, surgiram na década de 90 e já não têm a mesma relevância de antes. O Skank é um exemplo disso: tocou no placo mundo, fez um desfile de hits, mas encontra-se sumido em meio a essa cena pobre de Anitas da vida. O mesmo se aplica ao Jota Quest que apesar de toda a bagagem e carisma, não consegue mais um lugar ao Sol.

Outro detalhe curioso, mas que não é novidade nenhuma, também afligiu esta edição: o famigerado jabá. Para quem eventualmente não saiba, jabá é o resultado da ação “conhecer alguém que pode te ajudar”. Com isso, artistas de merecimento duvidoso se apresentaram no festival. No passado, temos dois exemplos, que foram o Glória e o Kiara Rocks (edições de 2011 e 2013, respectivamente), ambos verdadeiras bombas que tocaram graças ao empresariamento (Monica Cavarela), que tendo conceito junto aos Medina, conseguiu encaixa-los. Neste ano, tivemos o Dr. Pheabs, ruim até a alma, cujo vocalista também estraga outra banda, o Armored Dawn. Como eles entraram? Alguns integrantes são médicos e formam uma cooperativa que é uma das patrocinadoras do festival... Mas recomendo tentar assim mesmo ver ao show, pois rende boas gargalhadas. Destaque para o inglês “macarrônico” do vocalista Eduardo Parras.

O público novamente se faz presente no seguinte ponto: qual o limite para se aguentar repetições neste festival, mais especificamente o Guns n Roses, e mais ainda sendo trolado a cada apresentação? Se apresentando pela 3ª vez no RIR, o Guns – mais especificamente Sr. AXl Rose – fez a todos esperaram sua boa vontade em entrar no palco depois de atrasos monumentais nas duas primeiras vezes. Agora, a trolagem foi outra: apresentou um mega show com quase 4 horas de duração e... sem voz! Os anos se passaram, a idade aumenta, os kilos extras aparecem e a voz sofre com isso, mas o que foi apresentado foi simplesmente beirou o absurdo. O cara dava dez passos e já ficava ofegante, e isso transformou as musicas num tremendo martírio. Não vou nem mencionar os clássicos, que foram totalmente destruídos (“You Could Be Mine” ficou hilária), mas até mesmos as músicas novas sofreram na sua interpretação, como por exemplo, “Better” (do álbum “Chinese Democracy”). E o público tomou, goela abaixo, de uma só vez, repetição e engodo.

Outra questão sensacional de se comentar, é o fato de que determinado artistas têm carreiras brilhantes, mas padecem do mal que é o karma de qualquer artista: o palco. Combinar a reprodução das músicas dos álbuns com um atrativo visual é tarefa difícil, e é aí que o bicho pega. O Pet Shop Boys (que eu adoro) apresentou um show esquisito, cuja sensação era quase que a mesma de ouvir o disco olhando para o encarte, ou seja, tudo muito parado. Sendo uma dupla eletro-sint-pop (hein?) preencher o palco mundo do Rock in Rio foi para eles uma tarefa ingrata. Curiosamente, o que faltou aos PSB, sobrou para Fergie, com um palco visualmente bem utilizado com dançarinos, fumaça, telões e etc. E vice versa, pois aos PSB sobrou música (apesar de um playback aqui e acolá), enquanto Fergie sofreu com um som magrinho, bem longe do groove tanto de suas músicas próprias, quanto das canções de sua ex-banda, o Black Eyed Peas.

Mas houve boas surpresas, embora algumas nem fossem tão surpresas assim, pois se tratavam de repetecos: Alicia Keys e Justin Tiberlake foram perfeitos, com shows que deram gosto de ser ver e ouvir. Bon Jovi também fez um bom show, apesar de quase estar dando o braço a Axl Rose no quesito “minha voz já não é mais a mesma”. Salvou-se pelos backings vocals da banda, que encobriam a sua voz magrinha nos refrões mais explosivos. Destaque mesmo foi o Alter Bridge, que simplesmente destruiu o palco mundo com uma apresentação que eu, de início, não dei muito valor. Bastaram as primeira notas de “Come to Life” para a banda mostrar que não estava ali para brincadeiras. O vocalista e guitarrista Miles Kennedy provou para todos, com seu vozeirão, que não era a transmissão do muito show que estava com problemas. Perfeito, nota dez.

Estruturalmente, o evento esse ano teve a maior área até então, e teve muita opção para quem estava lá, além da música. Entretanto, horas na fila para andar num brinquedo, comida caríssima e banheiros em petição de miséria (relatos de amigos que estiveram lá) mostraram que ainda não conseguimos atingir uma estrutura ideal para eventos deste porte. Do lado de fora, taxistas “assaltando” as pessoas, onde só pegavam corridas longas e deixavam a pé quem queria ir para o entorno do festival (depois reclamam do Uber, e este foi previamente proibido pela Prefeitura), Metrô e BRT´s lotados, ou seja, Brasil. Nos resta esperar pela edição de 2019, isso se o Rio de Janeiro ainda estiver de pé até lá...


domingo, 21 de maio de 2017

Crise Após Crise... Brasil



Os acontecimentos recentes no Brasil, em termos gerais, têm sido impressionantemente caóticos. Parece que tudo, mas tudo mesmo está fora do lugar e da ordem: saúde, segurança, educação, política, investimento, empregos, transportes, tudo está em descompasso. Obviamente que a origem deste desarranjo todo vem das políticas públicas praticadas (ou não) pelos nossos governantes. A habitual inércia do governo desde a República, somada a eterna corrupção, mais 12 anos de governo do PT, que além de corrupto, quebrou o país com políticas populistas e irresponsáveis, o desbaratino e perda de foco dos políticos com as revelações da Lava Jato são apenas alguns pontos desse caos. Além disso, temos hoje um país polarizado, com defesas radicais de pontos de vista, regados com uma ignorância significativa de grande parte da população, que ainda não sabe dos seus direitos e não sabe exatamente pelo que está lutando, o que dificulta em muito uma reação ao quadro que aí está.

Um novo capítulo se instala com a delação dos executivos da JBS e a gravação do Presidente Michel Temer avalisando a compra de silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha frente a possibilidade de uma delação premiada. Feita com acompanhamento da Polícia Federal e não simplesmente por um corrupto qualquer que quis se resguardar, a gravação torna-se uma irrefurtável prova de obstrução da justiça. Posto isso, chamo a atenção para a citação do seriado “House of Cards”, feita no Twitter pouco depois da divulgação das denúncias: “Tá difícil competir”. Escrito no mais claro Português, o seriado, que trata de política e corrupção, comprova que os fatos recentes por aqui superam até a ficção. Se paramos para pensar, provavelmente teremos em breve o recorde de 2 presidentes impedidos em menos de 1 ano e meio. Independentemente disso, tem sido alarmante o número de políticos envolvidos em esquemas de corrupção, bem como as cifras milionárias envolvidas, sem mencionar a engenhosidade de alguns esquemas, com estruturas complexas de funcionamento e discrição, mesmo em meio as investigações em andamento.


Enquanto a polarização do país fatalmente se reacenderá, pois os quase extintos petistas fatalmente bradarão “Volta Dilma!” ou então “Eu já sabia”, ao passo que o outro lado bradará “Diretas Já”, teremos um país à deriva. Quando mencionei a ignorância do povo sobre seus direitos, o mesmo se aplica a análise de cenário: bradar “Fora Temer” sem saber o que aconteceria se ele realmente desse o fora, é algo que com certeza acontece. Agora que isso é iminente, poucos sabem quem assume no seu lugar, por quanto tempo, e tampouco como essa escolha se daria. Fatalmente se decepcionarão ao saber a resposta, pois Rodrigo Maia, ainda que por no máximo 3 meses, será essa figura. Mais ainda quando souberem que é o Congresso Nacional escolherá o substituto de Temer, por eleição indireta. Para que não sabe, diretas, neste momento, não é algo Constitucional.

Numa visão macro, Temer nunca foi uma tábua de salvação para o país após o naufrágio do governo Dilma. Enquanto Dilma não era sequer política, Temer é profissional, tanto que a sua capacidade de aglutinar uma base sólida no Congresso foi quase que instantânea. Infelizmente, depois do sucateamento do PT, era necessário alguém que seguisse as regras do jogo e fizesse o país andar, saindo de uma imobilidade que nos seria fatal em pouco tempo. A economia em frangalhos, juros altíssimos, redução dos investimentos, descrédito internacional, enfim, eram fatores que precisavam de (re)ação imediata. Lembro que na época corria um meme na Internet sobre “como era bom ter um presidente que sabia falar o Português correto”, numa alusão ao fato de que Lula era ignorante e Dilma tinha extrema dificuldade em articular suas idéias (tanto que alguns discursos dela são épicos até hoje de tão engraçados). Mais do que isso, expressava a necessidade de alguém que fizesse o que deveria ser feito, visando que o país voltasse a andar. Mesmo sendo alguém tão pouco confiável.

A verdade é que uma mudança antes das eleições de 2018 é muito, mas muito ruim para o país, independente de quem assumiu no lugar da Dilma. Temos uma necessidade extrema de retomada de crescimento, interno e externo, e uma nova troca de presidente joga isso por água abaixo. Era necessário, quem quer fosse no lugar da Dilma, que tocasse a situação até que uma nova eleição nomeasse um novo presidente. Traduzindo em miúdos, que minimizasse os estragos da gestão petista, retomasse a ordem e mantivesse uma “normalidade” até o momento da sucessão. Claro que Temer não estava tendo 100% de acerto, longe disso até, uma vez que os estados quebrados e em situação de calimidade (RJ, para citar um exemplo) impediam essa retomada, mesmo porque a União, também em sérios apuros, não tinha como socorrer ninguém. Mas o simples fato da interrupção dos descalabros petistas e retomada de decisões coerentes era o suficiente a saída do atoleiro e o respiro até as eleições do ano que vem.

Resta saber o que está por vir. Ao parece, não vai sobrar ninguém com o avanço da Lava Jato, que têm mostrado o que todos nós, no fundo, já sabíamos: corrupto ou não, nenhum político em Brasília se preocupa com o povo ou com o país, mas somente consigo mesmo. Some-se a isso ao fato do modelo de governo país, calcado num presidencialismo de coalização, estar completamente esgotado. Nele, mesmo quem quer fazer algo tem de se aliar a quem não quer, e inicia-se o eterno “toma lá da cá” da política. Se não houver renovação deles, do modelo e nossa, voltaremos ao mesmo de sempre. Só que ele já estará muito pior.     

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Existe Cura para a Falta de Educação?


Outro dia estava eu no ônibus, pela manhã, a caminho do trabalho. Saindo do ponto final, todos os lugares estavam ocupados, inclusive os preferenciais (que naquele dia não estavam todos ocupados por passageiros preferenciais). Entretanto, nada impede que estes sejam usados, desde que sejam gentilmente cedidos depois a quem precisa, certo? Nem tanto... A certa altura, pouco depois da saída do ponto final, uma mulher com criança de colo adentra ao veículo. Da subida no ônibus até a passagem dela na roleta, ninguém se coçou para levantar. Pelo contrário, todos pareciam sofrer de algum tipo de cegueira instantânea, onde ninguém via a situação que se desenhava, onde o final certamente se daria com alguém levantando e cedendo o lugar. Depois de alguns constrangedores minutos em que ninguém sequer levantava a cabeça – e o lugares preferenciais continuavam lá, todos ocupados - uma menina na minha frente se levantou e cedeu seu lugar. Minha indignação, que já era grande com a falta de respeito pelas regras sociais, ficou ainda maior quando a referida menina que foi a única a tomar a atitude correta, o fez mesmo estando cheia de bolsas. Com isso, cedi meu lugar a ela e fui em pé a viagem quase toda. Antes que alguém pergunte porque não dei eu mesmo o lugar à mulher com a criança, respondo: antes de bancar o “bom moço”, prefiro acreditar que todos devemos fazer nossa parte, todos devemos ser coerentes, inclusive os “cegos” que estavam sentados nos lugares preferenciais, destinado às pessoas como a mãe e seu filho de colo. Ao meu ver, se antecipar a estas pessoas é encorajar o comportamento errôneo e cínico delas. Além disso, tenho para mim a premissa que mesmo com o transporte cheio e apenas estes lugares vagos, não os utilizo, simplesmente porque alguém que precisará deles mais do que eu, certamente vai utilizá-los.

De um modo geral, ando pasmo com a falta de educação das pessoas. Pior, que tem se mostrado presente em todos os lugares e em todas as situações possíveis. Nas ruas, nos edifícios, nos coletivos, nos elevadores, nas filas, na hora pedir, na hora de informar, na hora de comer, enfim... Trânsito então – que renderia um texto a parte - nem se fala... Palavras ou expressões como “obrigado”, “por favor”, “com licença”, “bom dia”, “boa tarde/noite” cada vez caem mais em desuso... Chega a ser impressionante como está enraizado na cabeça do povo como algumas atitudes absurdas são consideradas normais pela grande maioria. Mas o porquê as coisas chegaram a esse ponto? Acho que uma lembrança minha dos tempos de faculdade pode ajudar na resposta.

Certa vez, durante uma aula de Marketing, onde o tópico era publicidade e propaganda, fiz o seguinte questionamento: “Por que razão a Coca Cola precisa fazer propaganda? Afinal, todo mundo gosta e sempre toma esse refrigerante!”. A resposta foi interessante: “Apesar da concorrência com outros produtos – sucos por exemplo – é a própria necessidade de manter-se em evidência no mercado o fator primordial para essa necessidade. Melhor dizendo, é a própria dinâmica da vida: pessoas nascem, vivem e morrem. Novas gerações chegam e precisam ser informadas sobre a existência do produto, uma vez que pais e mães cada vez mais focam em alimentos saudáveis para os filhos e podem retirá-lo do cardápio da família. Os novos consumidores demandam mais serem “bombardeados” com mídia justamente por terem sido criados onde o refrigerante não era de consumo rotineiro, foi reduzido gradativamente ou até mesmo não consumido.

Trazendo este case para o tópico educação, a analogia é simples: ao que parece, a educação é o refrigerante que está sendo retirado do consumo das novas gerações. E quando se fala em educação, a família é a base da formação de caráter de qualquer indivíduo. Mesmo que não houvessem provas e mais provas dessa afirmação, científicas até, basta olhar para quem tem filhos pequenos. As crianças, quando da fase de formação, são espelhos dos pais em quase todas as suas atitudes. Numa necessidade de se sentir incluída e aceita, a criança procura imitar o que pai e mãe fazem. Com base nisso, pais e mães são agentes fomentadores dos conceitos educacionais que serão tão importantes na fase adulta. Daí a constatação óbvia: aqueles sentados no banco preferencial e sem o bom senso de cedê-los a quem precisava deles, com certeza não tiveram estes conceitos imputados ao longo de sua criação e formação como indivíduos, ou se o tiveram, foi de maneira incompleta ou deturpada.
É claro que nosso país atravessa uma crise sem precedentes nos dias de hoje, mas não é de agora que o conceito de família vem sofrendo fortes abalos. O próprio desequilíbrio de nossa sociedade, com grande desigualdade social, desemprego, falta de escolas, hospitais, moradias contribui de forma significativa para o esfacelamento da família. A impossibilidade de chefe de família de sustentar e manter sua família pode facilmente separar a todos e quebrar este processo de formação do indivíduo. Crianças longe da escola, trabalhando desde muito cedo ou migrando para a marginalidade fatalmente não terão acesso à devida formação de caráter proporcionada pelo convívio familiar tradicional. Mas não é somente nas classes mais desfavorecidas que isso ocorre. Mesmo com acesso a instrução e inclusão social, a própria dinâmica da família tem se “deformado” por diversas razões. Menciono aquela que talvez seja a mais moderna das razões: a Internet, com seu potencial de isolamento – hoje não é raro ver famílias inteiras com a cara no celular nos momentos de convívio – ou também no seu poder informativo, onde pais e mães precisam fazer uma triagem do que pode ou não ser visto pelos seus filhos. Muitas das vezes, a perda desse controle cria situações difíceis de administrar.

Outro ponto essencial de se mencionar talvez seja o senso de impunidade que nosso país tem. É notório que leis e poderes não são eficazes na manutenção dos critérios que baseiam uma sociedade justa para todos. É como se ninguém tivesse o compromisso de fazer o sistema funcionar, respeitasse seus limites e critérios de punição. Por que respeitar algo que não funciona? Por conta disso, o descaso com as regras de convivência social extrapola o âmbito legal, uma vez que se cumprir a lei não é necessário, por que respeitar uma simples placa que diz que se deve ceder meu lugar?

É óbvio que meus argumentos aqui são superficiais frente a um assunto extremamente complexo, com fatores adicionais não mencionados, como religião e preconceito, para citar dois exemplos apenas. O importante era deixar claro que cada vez mais nos importamos mais com o “eu” em detrimento do “nós”. As pessoas não atentam para os reflexos de suas ações, a menos que haja algum impacto para si próprio. Se não, seguem em frente, esquecendo do próximo e tornando a nossa convivência coletiva insuportável, exatamente como ela é hoje.